Entrevistado:

120.2.M30 - Mario Sebastião Coutinho

Data da entrevista: 27/08/1990

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Função, Escola, Período
Função Escola Período
Professor(a) CASEB
Professor(a) ELEFANTE BRANCO 1961

Biografia

Mario Sebastião Coutinho nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de janeiro de 1934, e faleceu em Brasília no dia 20 de julho de 2002, vítima do Mal de Alzheimer. Professor de Biologia, licenciado pela Universidade do Rio de Janeiro, em 1960 ele presta concurso para o Ministério da Educação e Cultura e muda-se para Brasília com a família, onde passa a lecionar. Na Capital Federal, Coutinho inicialmente exerce o magistério no Colégio da CASEB e, no ano seguinte, em 1961, começa a dar aulas no Elefante Branco. \r +
Ele também foi professor do Pré-Universitário, tendo lecionado ali até 1976, e ainda coordenador do Colégio Marista de Brasília, o “Maristão”, onde ingressou em 1977 e do qual foi sumariamente demitido em 1985, por ter participado de uma greve de professores, tendo sido comunicado oficialmente de sua demissão por telegrama. Sua despedida do Colégio, contudo, a despeito da maneira fria e protocolar como foi demitido, foi muito emocionante. Na ocasião, ele foi homenageado pelos alunos e demais professores. \r +
No ano seguinte, em 1986, Mário Coutinho e um grupo de professores começam a articular a criação do Centro Educacional Setor Oeste (CESO), hoje Centro de Ensino Médio Setor Oeste (CEMSO), estabelecimento de ensino no qual foi diretor. Ali, ele mantinha uma cordial relação de amizade com seus colegas e o fato de ser diretor da escola não o afastava, por exemplo, das reuniões a portas fechadas que os professores faziam sempre que pretendiam reivindicar algo junto à Fundação Educacional do Distrito Federal. Por ser diretor, teoricamente ele não poderia participar destes encontros, mas alegava que acima de tudo era também professor e que por isso os colegas nunca se opuseram à sua presença. Seu espírito de liderança e sua capacidade de harmonizar o ambiente de trabalho era algo reconhecido por todos. .\r +
Coutinho sempre teve paixão pelo magistério e foi justamente movido pela ideia de encontrar na Capital Federal condições excepcionais para desenvolver um projeto pedagógico de qualidade que ele se propôs o desafio de mudar-se para Brasília. No Centro de Ensino Médio Setor Oeste, a exemplo do que já ocorrera anteriormente no Colégio da CASEB e no Elefante Branco, ele novamente teve a oportunidade de por em prática um trabalho relevante e inovador na área educacional. A ideia básica dos professores era fazer com que o aluno da escola pública também tivesse a chance de entrar na universidade, do mesmo modo como ocorria com o aluno da escola particular. O Setor Oeste era na época e ainda hoje é referência em Brasília em matéria de ensino. Na ocasião, por sinal, o CESO chegou a ter filas constantes de pais de alunos que ali queriam matricular seus filhos. Uma rigorosa prova de seleção, no entanto, era então exigida. Os alunos que conseguiam aprovação no Vestibular tinham seus nomes estampados em um cartaz, afixado na entrada da escola. No Setor Oeste ele trabalhou até 1995. \r +
Mário Sebastião Coutinho jamais deixou de lecionar, mesmo nas ocasiões em que exerceu a função de diretor ou de coordenador. Tanto assim que adorava quando algum professor faltava, somente para ter a oportunidade de estar na sala de aula, lecionando. Isso lhe valeu inclusive um apelido, dado pelos colegas: “sempre livre”. Ele próprio costumava dizer que é na sala de aula que o professor de fato se realiza. É através do contato com o aluno que o professor atinge a plenitude profissional. Segundo dizia, até eventuais problemas que o mestre venha a ter desaparecem quando está dando aula. \r +
Assim também, apesar de ter trabalhado em diversas ocasiões em escolas particulares, tinha o que se pode chamar de “alma pública”. Agia de maneira igual em ambos os tipos de escola e dedicava-se com desvelo ao trabalho e aos alunos que lá estudavam, indistintamente, tanto em um ambiente quanto no outro. Sua ida para o ensino particular, contudo, não foi opcional mas antes circunstancial. Ocorre que, quando a Fundação Educacional do Distrito Federal deixou de contratar professores, em tempo integral, ele forçosamente teve que lecionar em escolas particulares, para poder continuar sustentando a família. \r +
Mário foi casado com a Srª Maria Sylvia Mercadante Alves Coutinho, já falecida, e teve quatro filhos: Maurício, Andréa, Marcelo e Adriana, nascidos respectivamente em 1960, 1961, 1962 e 1970. \r +
Coutinho possuía uma notável consciência social e sempre esteve atento a tudo o que ocorria ao seu redor, tanto do ponto de vista político quanto educacional; do ensino propriamente dito. Era um homem culto e chegou a morar na Alemanha, onde fez mestrado, entre os anos de 1958 e 1959. \r +
Também recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasília cujo requerimento para que a comenda fosse concedida, pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, foi apresentado pelo então Deputado Distrital Rodrigo Rollemberg. Foi de Paulo Salles, entretanto, grande admirador de Mário Coutinho, igualmente professor, que teve a honra de trabalhar ao lado dele durante muitos anos, a ideia de sugerir a Rodrigo Rollemberg que concedesse o título a Mário Coutinho. Paulo trabalhou com Coutinho primeiramente no Colégio Pré-Universitário de Brasília, onde por sinal entrou pelas mãos do mestre, e posteriormente no Maristão, também sob sua coordenação. A solenidade de entrega do título foi realizada no dia 23 de abril de 2001, na Câmara Legislativa do DF, e foi presidida pela Deputada Maninha. O Decreto Legislativo relativo à concessão do título Cidadão Honorário de Brasília é o de Nº 663, de 2001. \r +
Apaixonado que era pelo magistério, uma frase cunhada por ele que bem o define é a seguinte: “Dê-me quatro paredes e homens de boa vontade que eu faço uma escola”. \r +


Áreas de atuação
  • Biologia

Resumo

Mário Sebastião Coutinho era professor de Biologia, licenciado pela Universidade do Rio de Janeiro, tendo prestado concurso patrocinado pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1960, objetivando lecionar em Brasília. Ele foi um dos sessenta professores de Ensino Médio selecionados na ocasião e veio para Brasília, no mesmo ano, com aquele grupo de professores, para participar de um estágio que se iniciou no mês de abril. \r + + + +
O entrevistado conta que, na época, era um professor ainda jovem e que veio para Brasília movido pela ideia de encontrar na Capital Federal condições excepcionais para desenvolver um bom trabalho na área educacional. Segundo ele, naquele tempo todos falavam muito bem da nova capital do país e a possibilidade de desenvolver em Brasília um projeto pedagógico inovador o fascinou. Foi isso que o estimulou a prestar o concurso do Ministério da Educação e Cultura\r + + + +
O estágio do qual participou teve início em Brasília, prosseguiu posteriormente no Rio de Janeiro, por mais uma semana, e somente depois deste período foi que ele e aquele grupo de professores transferiram-se definitivamente para Brasília, para iniciar o trabalho na área educacional. \r + + + +
Ao chegar em Brasília, Mário Sebastião Coutinho e seus colegas de magistério encontraram todas as dificuldades de ordem material típicas de uma cidade em construção. Inicialmente, eles foram alojados em casas que hoje correspondem a W3 Sul 706 e ali residiram em uma espécie de república. Logo em seguida iniciaram suas atividades letivas, no dia 16 de maio de 1960, no Colégio da CASEB, que vinha a ser então a sigla da comissão do Ministério da Educação encarregada de desenvolver o sistema educacional em Brasília.\r + + + +
Desse período, ele lembra que as salas de aula não tinham nem mesmo quadro negro e que foram os próprios professores que fizeram toda a limpeza do prédio e organizaram as carteiras e cadeiras para que os alunos pudessem assistir aula. Apesar das dificuldades, ele conta que os professores eram muito unidos e faziam tudo com extrema boa vontade. Assim sendo, eles também foram escalados para organizar várias Escolas Classes de Brasília. Ele, particularmente, foi designado juntamente com um grupo de colegas para fazer tal serviço na Escola Classe da 108 Sul. \r + + + +
O entrevistado menciona ainda uma greve ocorrida em agosto ou setembro daquele ano de 1960, o mês exato ele não mais se recorda, motivada pela insatisfação dos professores relativamente ao problema da moradia. Aquela foi então a primeira greve ocorrida na história de Brasília e durou cerca de quinze dias. Segundo ele, essa greve foi feita espontaneamente pelos próprios professores, à revelia de qualquer organização, e ocorreu unicamente pelo fato de as autoridades não terem cumprido com o acordo que havia sido firmado anteriormente com os professores. A alegação superior, portanto, segundo Mário Coutinho, era a de que eles não eram funcionários transferidos para Brasília e sim funcionários concursados e que, por isso, o Governo não tinha obrigação de cumprir com a cláusula que favorecia os professores relativamente ao tipo de moradia que eles pleiteavam. Quer dizer, obter apartamentos com número de quartos de acordo com o tamanho da família de cada um. \r + + + +
Os professores, contudo, não desistiram e posteriormente conseguiram agendar um encontro com o então presidente do Brasil, Juscelino Kubistchek, obtendo dele a promessa de que ganhariam casas na W3 Sul, que já estavam sendo construídas e destinadas a funcionários do Senado. Estes, contudo, não estavam inclinados a aceitar tais residências, mas os professores as consideraram bastante adequadas às suas necessidades. Com isso, o movimento grevista se encerrou.\r + + + +
Findo o movimento, o grupo sentiu a necessidade de se organizar melhor e surgiu então a chamada Associação Profissional dos Professores do Ensino Médio de Brasília. Não se tratava de sindicato porque, na ocasião, os professores eram considerados servidores públicos e pela lei então vigente servidor público não podia ser filiado a qualquer tipo de sindicato. O professor Mário Sebastião Coutinho foi então, na ocasião, o primeiro presidente desta Associação. \r + + + +
Pouco tempo depois de ter começado a lecionar no Colégio da CASEB ele e seus colegas de trabalho foram transferidos para uma escolinha de madeira que na ocasião foi construída ao lado do que posteriormente viria ser o Elefante Branco, cujo prédio ainda estava em construção. Na pequena escola, passaram a lecionar o científico e o clássico. Essa escolinha foi plantada no meio do Cerrado e na época recebeu o apelido de “Sibéria”. Ele conta que foi como se os professores tivessem sido deslocados para muito longe e que por isso o apelido acabou sendo automaticamente dado por todos. \r + + + +
No ano seguinte, em 1961, foram então transferidos para o Elefante Branco, no dia 21 de abril de 1961, quando o colégio foi então inaugurado. Ali, segundo ele, já encontraram condições de trabalho muito melhores.\r + + + +
Ele também conta que já houve ocasião em que os professores se reuniam na escola, na hora do recreio, de portas fechadas, para discutir assuntos da categoria, e ele teoricamente não poderia participar de tais encontros por ser diretor. De forma bem humorada, no entanto, argumenta que como jamais deixou de lecionar, mesmo nas ocasiões em que exerceu a função de diretor ou de coordenador, sempre se sentiu muito a vontade para se juntar aos colegas e participar de reuniões deste tipo. Sua relação com os colegas de trabalho sempre foi fraterna e cordial. \r + + + +
Na opinião do entrevistado, é na sala de aula que o professor realmente se realiza. É através do contato com o aluno que o professor atinge sua plenitude profissional. Segundo afirma, até problemas que o mestre eventualmente tenha desaparecem quando está dando aula e, ao sair da sala, a sensação de bem-estar é inegável. \r + + + +

Local da entrevista: Brasília -DF

Palavras chave

Observação


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