Entrevistado:

120.2.S3 - Stella dos Querubins Guimarães Trois

Data da entrevista: 18/09/1990

Entrevistadores(as):
Função, Escola, Período

Biografia

A professora Stella dos Cherubins Guimarães Trois é natural de Planaltina. Fez o curso normal e, depois de formada, passou a dar aulas na sua cidade de origem, integrada a uma campanha de alfabetização de adultos – e também de crianças – então em curso. Foi demitida por razões de ordem política envolvendo sua família e, por isso, passou a trabalhar como secretária do prefeito, seu pai (prefeito da cidade por três vezes: uma por indicação e duas por eleição). Nessa ocasião, esteve em Planaltina a missão chefiada pelo Marechal José Pessoa, que veio demarcar a área onde seria erguido o futuro Distrito Federal, datando dái o seu conhecimento com o Dr. Ernesto Silva.\r +
Terminado o mandato do pai-prefeito, a professora normalista Stella foi para São Paulo, onde prestou vestibular; tinha a intenção de retornar ao magistério num estado onde isso se desse por concurso, sem a possibilidade de ingerência política.\r +
Dois anos depois transferiu-se para Goiânia, onde, na Universidade Católica, fez Geografia e História, com licenciatura. No quarta ano da faculdade, por indicação da instituição, já lecionava na rede pública – Liceu – e em escola católica (Assunción), em nível de 2º. grau.\r +
Por essa ocasião, veio, em missão de estudos, com colegas da faculdade, conhecer Brasília, ou melhor, a futura capital do Brasil. Foi quando conheceu de perto a preparação, as linhas mestras da educação que aqui se planejava instituir. Recebeu, do Dr. Ernesto Silva, convite para lecionar na nova capital. Declinou do convite, por ainda estar estudando. Mesmo assim, em 1958 foi indicada para o magistério de Brasília. Veio em 10 de julho de 1958, durante as férias escolares, para fazer uma experiência. Nunca mais saiu daqui e nem do magistério do DF.\r +
Veio, inicialmente, para o Grupo Escolar GE – 1, mais tarde, Escola Júlia Kubitschek, na Candangolândia, onde lecionou na 3ª. Série, retornando às suas origens de professora primária. E foi a primeira professora primária de Brasília a dispor de curso superior.\r +
Nesta época, a professora Santa Alves Soyer era coordenadora da implantação de novas escolas. A professora Stella passa a auxiliá-la na secretaria da escola, além de lecionar. Logo é indicada para a direção da escola, em substituição a dona Santa, que precisava se dedicar à coordenação.\r +
Da Escola Júlia Kubitschek foi para o Plano Piloto, indicada para organizar as escolas que ali surgiriam. Ficou, de início, em quatro casas que a NOVACAP ocupava na W-3, enquanto se construía a primeira escola-classe do plano, a da 308 Sul. Inaugurada em 12.09.1959 a escola-classe da 308, foi indicada sua primeira diretora.\r +
Com a inauguração, em 20.11.1960, da escola-parque da 308, foi indicada para ser a sua primeira diretora. Neste meio tempo, por indicação do professor Anísio Teixeira, fez estágio no CRINEP, em Porto Alegre (curso de supervisão). E, mais tarde, fez estágio na escola-parque da Bahia.\r +
Assume, também, a coordenadoria do Centro de Educação Primária. Onde, principalmente, promoveu a articulação entre a escola-classe e a escola-parque. Ficou na escola-parque até 1963.\r +
Da escola-parque iniciou um trabalho com a educadora Helena Reis e foi a única professora agraciada com bolsa de estudos de pós-graduação nos Estados Unidos. , para onde seguiu ainda em 1963, para um programa de especialização que durou oito meses. Especializou-se em Supervisão de Administração e em Educação Artística (técnica de audiovisual), na Universidade de Michigan, após observar o sistema educacional no leste dos Estados Unidos.\r +
Retornando ao Brasil, foi convidada por dona Helena Reis para trabalhar no Departamento de Ensino Elementar, coordenando um trabalho de supervisão junto aos diretores de escola, realizando uma espécie de treinamento desses diretores, supervisores e orientadores escolares.\r +
Em 1965, morre a educadora Helena Reis. É então convidada, pela Secretaria de Educação, a ‘pensar’ as linhas mestras para a implantação de um curso para formação de diretores de escolas de educação primária. Propôs, em conjunto com a professora Clélia Capanema, a instituição do que chamou Curso de Administração Escolar para Professores Primários, baseado, principalmente, nas experiências dos Institutos de Educação de Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre, que visitou, e que tinham atuação nessa área. Recebeu, do então Conselho de Educação, este curso, o nome de Curso de Direção de Escola Elementar. Foi coordenadora desse curso, de nível superior, a partir de 1965. Permaneceu até 1970. Nesse meio tempo, recebeu: a coordenação do curso de formação de supervisores escolares e a coordenação do curso de formação de professores da pré-escola. Organizou a biblioteca do curso de direção. Montou a escola de aplicação, ainda na escola-classe da 315 Sul.\r +
Em 1970 foi para a Escola Normal de Brasília, recém-fundada como escola (antes era apenas curso normal). Na ENB fundou a biblioteca da instituição, organizou a escola de aplicação, o Jardim de Infância. Estruturou a Escola Normal e, quando sentiu que a mesma já podia “andar sozinha”, dedicou-se ao magistério na Universidade de Brasília, onde precariamente (apenas uma carga de doze horas) lecionava desde abril de 1970.\r +
Realizou um curso de especialização e passou a dedicar-se à universidade com mais intensidade, até pelo advento da reforma do ensino superior, na qual pontificava a necessidade de a estrutura dos cursos superiores pertencerem à universidade e não mais ao sistema de ensino. Na universidade, cuidou então dessa transição, do GDF para a UnB; foi então fazer a transferência do curso de direção para a universidade (Faculdade de Educação).\r +
Permaneceu cinco anos nos Estados Unidos, com a família. Fez mestrado na Universidade de Stanford em 1973. Em 1974 foi para Los Angeles, onde fez o doutorado, sucessivamente, em Administração (com ênfase em currículo) e em Administração Pública. Permaneceu até 1977.\r +


Áreas de atuação
  • Atividades e Pedagogia

Resumo

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A entrevistada inicia o seu depoimento fornecendo dados pessoais e mencionando o acompanhamento das primeiras providências – como a demarcação do sítio correspondente – para a construção da futura capital do Brasil.\r + + + +
Relata como, ainda estudante, veio conhecer o que seria Brasília, em viagem de estudos; nessa ocasião, tomou conhecimento do sistema de ensino que estava sendo projetado para a nova capital, como também conheceu o Dr. Ernesto Silva que, de pronto, convidou-a a vir lecionar em Brasília, convite que reiterou em visita a Goiânia. Em 1958 veio em caráter experimental. Seria definitiva a sua vinda, no entanto. Começou a lecionar na escola Júlia Kubitschek, na 3ª. série primária. Revela guardar dessa época a memória das grandes transformações pessoais e profissionais, principalmente porque significou um retorno às suas origens na docência: professora normalista começara na alfabetização de crianças (e de adultos também, é verdade), como quartanista de História e Geografia no 2º grau, e agora, a vinda para Brasília a trazia de volta ao ensino primário.\r + + + +
Em seguida, refere-se ao fato de ter substituído a professora Santa Soyer na direção da Júlia Kubitschek; relembra a escola e o trabalho ali desenvolvido. Fala da ida para as casas populares do Plano Piloto, onde se processou o ensino para a clientela da região, enquanto se aguardava a construção daquela que seria a primeira escola-classe de Brasília: a da 308 Sul. Tornou-se a primeira diretora dessa escola, inaugurada em 1959.\r + + + +
Recorda a insegurança diante da magnitude do plano educacional proposto por Anísio Teixeira e de como este lhe indicou a realização de estágio no CRINEP (centro regional de treinamento do INEP) em Porto Alegre.\r + + + +
Historia os pontos marcantes de seu trabalho na escola-classe da 308: a preparação para o início do ano letivo, em nível de uniformes, material escolar e elaboração de currículo, entre outros aspectos.\r + + + +
Menciona a instalação da CASEB, ou seja, a comissão de administração da educação de Brasília; aborda a questão da seleção e aproveitamento dos antigos professores com a vinda de novos docentes, aprovados em concurso nacional promovido pela referida Comissão. Fala da recepção a esses professores, que praticamente coordenou.\r + + + +
Reporta-se, em seguida, ao surgimento da primeira escola-parque, a da 308 também, da qual, para surpresa sua – pleiteava, na verdade, a Escola Normal – foi indicada a primeira diretora.\r + + + +
Focaliza o funcionamento da escola-parque, suas particularidades, seus propósitos, as atividades; reporta-se aos esforços, como coordenadora do Centro de Educação Primária, para promover a integração, a articulação escola-classe/escola-parque. Ressalta a importância, para a escola, do auditório da escola-parque, com relevância histórica, afetiva e educacional. Não deixa de mencionar o significado do ensino em tempo integral.\r + + + +
Comenta, ainda em relação à escola-parque, acerca dos princípios anisianos que nortearam o trabalho desenvolvido naquela escola. Falando da própria, menciona os seus equipamentos, as suas instalações, e aspectos educacionais: currículo, proposta pedagógica, atividades socializantes, etc.\r + + + +
Lê, a seguir, partes de um relatório da época, elaborado justamente para evidenciar e analisar os princípios fundadores da escola. Constam desse relatório, como pontos principais: a descrição daquelas linhas gerais ou princípios; a avaliação das atividades desenvolvidas; sugestões de alunos e professores, muitas delas expressas em resposta a questionários que na época eram aplicados. Faz a leitura de alguns tópicos desse relatório objetivando colocar em evidência: o conjunto das atividades da escola; o planejamento em relação aos resultados; a influência do material, inclusive didático, e do apoio da comunidade, na obtenção desses resultados; o contato com alunos, pais de alunos, professores das escolas-classe; o depoimento de professores da própria escola sobre a estrutura; a questão do crescimento dos alunos – físico, mental, emocional, espiritual, cognitivo, e até econômico; os dados sobre aprovação e reprovação.\r + + + +
Comenta, a seguir, a questão do princípio econômico da escola: a cessão de uniformes, material escolar para os necessitados; a caderneta de poupança dos alunos. Nesta eram depositados os valores provenientes da venda, durante a exposição anual de artes industriais, dos trabalhos executados pelos alunos.\r + + + +
Exalta, a seguir, a figura da educadora Helena Reis, que veio de belo Horizonte para coordenar o ensino primário em Brasília, a pedido dos próprios diretores de escolas-classe e parque. A propósito, relaciona o não cumprimento da proposta original de construir uma escola-parque a cada quatro quadras à necessidade de se construir muitas escolas-classe nas cidades-satélites. Ainda sobre a escola-parque, fala do Festival de Música, envolvendo alunos, professores, comunidade, a universidade, etc.\r + + + +
Por influência da dona Helena Reis, vai para os Estados Unidos especializar-se. Fala dessa especialização, na Universidade de Michigan, e de como, no retorno, assumiu a coordenação do curso de diretores de escolas do ensino elementar, passando antes por visitas aos Institutos de Educação de Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. Menciona a expansão dessa coordenação para a de outros cursos: de formação de supervisores e orientadores escolares e de formação de professores da pré-escola. Fala do curso de formação de diretores como um dos mais importantes trabalhos que realizou, mexendo com a auto-estima dos diretores, que inclusive passaram a se apresentar e a se comunicar com esmero.\r + + + +
Fala a seguir de sua ida para a Escola Normal, após deixar a escola-parque, onde recebeu emocionante homenagem. Antes, porém, a decisão espontânea de deixar a coordenação, entendendo que o tempo que permaneceu – cinco anos – fora excessivo. Na Escola Normal definiu os princípios de trabalho a partir da concepção arquitetônica da escola: a questão da unidade física; a abertura do espírito de valores; a descentralização e o princípio da descontinuidade. Em relação à Escola Normal aborda os seguintes aspectos: a manutenção; a preservação do ambiente; a biblioteca; a sala de estar; a sala de estudos; a cantina; o banheiro completo (com chuveiro); a disciplina; a avaliação sócio-econômica do alunado; o sistema de orientação educacional; o embelezamento da escola, “de forma convidativa para a arte e para a cultura”. Após organizar a Escola Normal propriamente dita, a ponto de poder “andar sozinha”, a escola de aplicação e o Jardim de Infância, além da biblioteca, a entrevistada deixa a ENB.\r + + + +
Faz breves comentários sobre o período de governos militares; relata episódios ilustrativos da insegurança e do clima reinante na época. Faz menção também a um seminário sobre o currículo da escola e à intervenção espontânea (no sentido de franca) de um modesto pai de aluno.\r + + + +
Focaliza a ida para a Universidade de Brasília, onde se incumbe da transferência da estrutura dos cursos superiores, do sistema de ensino – rede pública – para a universidade – Faculdade de Educação, por conta da reforma do ensino superior.\r + + + +
Refere-se, na sequência, ao fato de toda uma vida dedicada à educação não ser suficiente para enfrentar os desafios impostos pela universidade. Lembra da necessidade de maior especialização. Relata o período passado nos Estados Unidos: entre 1973 e 1974, Universidade de Stanford, doutorado; dois mestrados na Universidade de Los Angeles, de 1974 a 1977. Recorda as dificuldades enfrentadas, porque o GDF resolveu conceder-lhe, tão-somente, licença sem vencimentos.\r + + + +
Volta a referir-se ao período revolucionário e as consequências mais imediatas, como a maior politização dos professores, privilegiando a luta de classes, em detrimento da conscientização. Relata as dificuldades de convivência sistema de ensino – regime militar. \r + + + +
Ao final, estabelece um paralelo entre duas situações que, num intervalo de trinta anos, marcaram sua vida e sua carreira: por razões políticas foi demitida do magistério, ainda em Planaltina; numa demonstração de consciência política, o professor Fábio Bruno, à frente da Secretaria de Educação, a reconduz ao Conselho Diretor da Fundação Educacional, não obstante suas diferenças de natureza política.\r + + + +

Local da entrevista: Brasília - DF

Palavras chave

Observação


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