Entrevistado:

120.2.T1 - Terezinha Rosa Cruz

Data da entrevista: 19/01/1990

Entrevistadores(as):
Função, Escola, Período

Biografia

A professora Therezinha Rosa Cruz é natural de Ibiá-MG, casada com Nestor Rocha, tem três filhos. Seus pais foram José Rosa Filho e Laura Romanelli Rosa, também educadora.\r +
Sua formação é em Artes, especificamente pintura. Obteve licenciatura em Brasília; após fazer as disciplinas correspondentes, beneficiou-se de decreto que dava às professoras de Artes essa prerrogativa. Obtinha assim, a licenciatura nas disciplinas básicas, sendo a primeira a consegui-lo após a Lei 5692/71. \r +
Em sua terra natal, iniciou a experiência no magistério em classes de alfabetização. Lecionou por quase cinco anos. Casando-se, abandonou, temporariamente, a docência e foi morar no Rio de Janeiro, onde permaneceu por oito anos, tendo se formado na Escola Nacional de Belas Artes.\r +
Em 1958 seu marido foi admitido na NOVACAP. Cuidava da área de transportes de materiais para a construção da nova capital. Permaneceu no Rio de Janeiro exercendo a função ainda por dois anos – 1958 e 1959. No final de 1959, a família mudou-se para Araguari-MG, por decisão da NOVACAP; lá ficaram do final de 1959 até 1964, quando um decreto do governo obrigou a transferência para Brasília dos funcionários da NOVACAP lotados em outras unidades. Chegou em julho de 1964 e, em 15 de agosto, foi admitida no CIEM, uma experiência educacional ainda em formação. Ingressou como assistente de direção, pois a disciplina Artes – que seria sua especialidade – ainda não havia sido implantada, e o currículo achava-se em fase de elaboração. NO CIEM, posteriormente, coordenou o curso de suficiência na área de Desenho.\r +
Em 1966, no CIEM, passou a acumular a secretaria de cursos com a assistência de direção; entretanto, acabou ficando apenas com a secretaria, com a incumbência de constituir a equipe de Artes. Passou a orientadora da equipe de práticas educativas vocacionais do CIEM.\r +
Em 1968 assume a direção do CIEM. Permanece na função por apenas um ano, tendo pedido demissão do cargo, mas continua na instituição até que, em 1971, ocorre a sumária extinção da mesma, sendo diretora à época a professora Maria do Socorro Jordão Emerenciano.\r +
Encerrado o ciclo CIEM, que julga o mais produtivo de sua carreira, foi para a Faculdade de Educação da UnB, o que representa o retorno ao magistério propriamente dito, após uma interrupção de quinze anos. Permanece meio expediente na UnB e meio-expediente no MEC, ou, mais especificamente, na Diretoria do Ensino Médio, integrando, juntamente com a professora Maria do Socorro, a equipe de assessoria à implantação da Lei 5692 (LDB), dando assistência ao estado de São Paulo. Considera este, um período sem grande significação para sua carreira, pois as sugestões em geral eram ignoradas pelo estado (SP) e projetos eram interrompidos sem justificativa. Iniciou, por exemplo, uma pesquisa sobre construção escolar e a mesma foi abruptamente interrompida. Pediu para sair da Diretoria. Retornou à plenitude das atividades na universidade.\r +
Com a reforma administrativa na Fundação Educacional do Distrito Federal foi para a Diretoria Geral de Pedagogia, onde secretariou a professora Josephina Baiocchi. Aposentou-se em 1980.\r +
Mesmo aposentada, trabalhou com o projeto “Alimentação Alternativa e Plantas Medicinais”, cujo foco é a preocupação com a desnutrição na rede oficial de ensino.\r +
Escreveu diversos artigos sobre a educação. Participou da formação do curso de Pedagogia na UnB. Organizou inúmeros cursos de extensão e elaborou variados projetos ao longo da carreira. Publicou Educação e organização social: estudo comparado do sistema de educação USA-URSS-Brasil. Destaca, como altamente significativo, o trabalho CIEM-UnB: uma experiência interrompida, um projeto de pesquisa sobre o encerramento das atividades do CIEM. Julga também relevante um projeto de pesquisa experimental sobre o ensino da Geometria Descritiva, que levou para Santa Catarina. \r +
Quando, após o término do CIEM, veio para a universidade, ficou no Instituto Central de Artes e Arquitetura, chamado ICA-FAU, por força de reestruturação da Faculdade de Educação. Nessa ocasião, deu continuidade ao processo de implantação da licenciatura em Desenho e Plástica. Ao mesmo tempo, desenvolveu, com o professor Valmir Chagas, trabalho relativo à elaboração de um currículo mínimo para o curso de formação de professores de educação artística, curso esse de longa maturação, por razões burocráticas. Dirigiu, ainda, uma equipe para reformular o currículo da formação pedagógica da licenciatura.\r +
Envolveu-se de tal maneira com a educação que praticamente ignorou a vocação artística (pintura, escultura, etc.). \r +
Por fim, é de se destacar que um projeto de que participou lhe foi especialmente grato: o desenvolvido pela Universidade de Brasília com vistas a implantação do CAM, que, na sua visão, em certa medida, vinha a ser uma continuidade da experiência do CIEM.\r +


Áreas de atuação
  • Artes

Resumo

A entrevistada refere-se, inicialmente, à sua formação na área de Artes (pintura) e à licenciatura obtida já aqui em Brasília, nas disciplinas básicas, por meio de decreto assegurando este direito aos professores da área artística. Isto por volta de 1972, 1973.\r + + + +
Revela ter vindo em julho de 1964, acompanhando o marido, então funcionário da NOVACAP e, já no mês seguinte, ter assumido como assistente de direção do Centro Integrado de Ensino Médio, o famoso CIEM. \r + + + +
Retorna ao início da carreira, na cidade natal – Ibiá- Minas Gerais – como professora normalista, ou mais especificamente, professora primária envolvida com a alfabetização. Lembra que sua primeira turma era, praticamente, de repetentes. Refere-se ao casamento e à mudança para o Rio de janeiro, com o abandono temporário do magistério. Comenta sua ida para a Escola Nacional de Belas Artes, onde formou-se. \r + + + +
Detalha a atuação e a dedicação ao CIEM, que considera a mais importante experiência em sua carreira, pelos anos em que ali permaneceu, pelo trabalho desenvolvido, pela direção que assumiu, pelo acompanhamento, do início ao final – maio de 1964 a fevereiro de 1971 – da instituição, mas principalmente, pelas propostas, pelo projeto, pela qualidade, pela abertura de oportunidades ao pensar, aprender e questionar. Focaliza o CIEM no contexto da Universidade de Brasília e da própria educação da nova capital. Diante dos desafios que enfrentou, teve sempre presente, naquele momento, o exemplo da mãe, educadora à frente de seu tempo, inspiradora do trabalho realizado com competência e determinação pela entrevistada.\r + + + +
Ainda as recordações da mãe tomam parte de seu depoimento, esclarecendo que as lições que dela recebeu e o que pôde observar de seu trabalho foram, certamente, determinantes dos bons resultados obtidos no início da carreira, quando teve que improvisar, usar mais a intuição do que os conhecimentos, que admite limitados naquela ocasião, ousar na prática em sala de aula, mesclando e adaptando métodos.\r + + + +
Reporta-se ao sonho de ser pintora, que acalentou. E como hoje a entusiasma mais a escultura. Mas também faz menção ao ambiente cultural que privilegiou sua infância e adolescência: a mãe educadora, criativa, ousada em relação às técnicas e à filosofia de ensino; o pai, que lhe proporcionou rica convivência intelectual, com o gosto pela literatura, a tendência socialista, a conversa sobre a História e a cultura. Fala, ainda, das origens da família – os Romanelli – em Minas Gerais, e de sua paixão pela natureza, pelo universo (leu muito sobre astronomia), numa perspectiva de encontro com a vocação artística.\r + + + +
Relata, a seguir, o início de seu trabalho no CIEM. E esclarece ter sido esse Centro Integrado um projeto da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, um centro de demonstração e experimentação pedagógica para as áreas do ensino médio (normal, industrial, comercial, agrotécnico e secundário propriamente dito), e ainda, de treinamento de professores e demonstração para os alunos.\r + + + +
Focaliza o funcionamento, a estrutura física, o suporte pedagógico, a proposta educacional da instituição, sua relação com a universidade. Tanto quanto a Faculdade de Educação em relação à universidade, O CIEM desempenhava importante papel na formação do docente de 2º grau. Refere-se aos exames de suficiência, revelando ter coordenado o da área de Desenho. Relata, na sequência, os contatos com Lauro de Oliveira Lima, com a teoria piagetiana, com o desenvolvimento do escolanovismo, com pessoas que se tornaram referências na Arte e na Educação em Brasília (e, algumas, no Brasil). E que toda essa aproximação deu-se ao ensejo da montagem da área de Artes (plásticas, cênicas, industriais) no CIEM.\r + + + +
Sobre o fechamento do CIEM, revela que esteve envolvida em projeto que busca as razões dessa violência contra o ensino de Brasília, principalmente as razões político-ideológicas. Menciona a destruição, principalmente por incineração, da documentação relativa á instituição, apagando sua memória, suas origens (documentos de constituição), sua evolução e até os atos que atestam sua extinção. Reporta-se ao CIEM como centro de experimentação didática, pedagógica, administrativa; e, no entanto, como era visto – particularmente pela reitoria da UnB – numa perspectiva de foco de agitação, de subversão, escola excessivamente cara e que não representava, na prática, todo aquele avanço que lhe atribuíam. Além do que, tinha, de parte das autoridades educacionais do período, a chancela de escola problemática e foco de crises constantes.\r + + + +
Destaca, a seguir, os objetivos principais do CIEM: despertar a visão crítica e o raciocínio lógico entre os alunos; a capacidade de discernimento; o pensar e o criar. Identifica como consequência do acerto desses princípios o fato de hoje se encontrar, na sociedade brasiliense, figuras de relevo em diversas áreas – política, pesquisa, ciências, educação, etc. – todos ex-alunos do CIEM.\r + + + +
Refere-se, em seguida, ao projeto que desenvolveu sobre a história do CIEM, sua concepção, sua presença no contexto da universidade, sua trajetória interrompida pelo arbítrio. Relembra o perfil político de seus gestores, a subordinação à gestão da universidade, assim como, a crise de 1967, que abalou seriamente a instituição e talvez tenha precipitado o seu fim. Lamenta, a propósito, mais uma vez, a perda praticamente completa do acervo CIEM; focaliza, especificamente, as circunstâncias de encerramento da instituição, tida pelo então Reitor da UnB como inevitável. Aponta a revisão dos Estatutos da universidade, promovida pela reitoria, como claro indício do que, em breve, iria acontecer: aquela era uma espécie de senha para o fechamento da instituição.\r + + + +
Revela os bastidores da crise de 1967 no CIEM, com o confronto entre o diretor e alunos, a partir de um episódio de insubordinação de uma aluna, e de como, tendo deixado de prevalecer o bom senso, resultou em 28 expulsões. Relembra, a propósito, os princípios da instituição: respeito ao outro, respeito ao trabalho do outro, respeito à autoridade. Fala também da invasão da universidade, em 1968, e da trama política para fazer desaparecer o CIEM, o que, efetivamente, acaba acontecendo pouco depois.\r + + + +
Ainda com relação ao CIEM, menciona a elaboração do material didático, praticamente a cargo dos professores do estabelecimento. Destaca, neste contexto, uma experiência importante de ensino de geometria descritiva, que daria origem, mais tarde, a um projeto de pesquisa experimental, em Santa Catarina : geometria descritiva pelo método da descoberta.\r + + + +
Relatando a fase pós-CIEM, revela ter ido para a Universidade de Brasília (Faculdade de Educação) como já visto, e simultaneamente, para o Ministério da Educação (Diretoria do Ensino Médio), assessorando em face da próxima implantação da nova Lei de Diretrizes e Bases – Lei 5692/71.\r + + + +
Na universidade, relata a sua atuação junto ao Instituto Central de Artes e Arquitetura, trabalhando o currículo para a licenciatura em Desenho e Plástica, mais tarde substituído por Educação Artística.\r + + + +
A seguir, revela a importância do trabalho desenvolvido pela educadora Josephina Baiochi na reformulação do currículo do Curso de Pedagogia na Faculdade de Educação (magistério), com interferência positiva na formação docente. \r + + + +
Voltando, uma vez mais, à questão do CIEM, menciona a situação funcional dos professores de nível superior do estabelecimento, com contrato junto á UnB na condição de professores colaboradores da universidade, mas com foco no ensino médio. E a transformação da personalidade jurídica da instituição, que passa a ser ‘entidade complementar’, ou seja, teoricamente suprimível a qualquer tempo.\r + + + +
Evidencia o seu envolvimento com a educação, muito mais do que com as Artes. E sobre esse envolvimento, retrata a evolução, do ponto de vista didático, pedagógico e administrativo, que experimentou ao longo da carreira.\r + + + +
Por fim, faz um retrospecto das relações CIEM – Universidade de Brasília nos anos mais críticos para ambas as instituições: 1967 e 1968.\r + + + +

Local da entrevista: Brasília - DF

Palavras chave

Observação


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