Data da entrevista: 29/03/2001
A professora Anísia Santos da Rocha Cravo veio para Brasília em 1958, tendo aqui chegado cerca de dois meses após a vinda de seu esposo, profissional da construção civil. Acompanhavam-na os três filhos do casal. Um mês após a chegada já lecionava em uma escolinha improvisada pela Construtora Nacional, onde seu marido era empregado, e que logo foi absorvida pela Novacap. A professora Anísia tornou-se, então, responsável por essa escola e pelo Jardim de Infância, ambos localizados no acampamento da construtora, no local onde hoje está instalado o Congresso Nacional. Embora não tenha participado do concurso nacional para seleção daquele grupo inicial de docentes no Distrito Federal, realizou estágio supervisionado, tendo sido, em seguida, contratada pela Novacap. Em 1960 passou para o recém inaugurado CASEB e, posteriormente, para a Fundação Educacional do Distrito Federal. Ainda no período anterior à inauguração de Brasília, tornou-se a primeira diretora de um grupo escolar em Taguatinga, de onde veio para a escola-classe da 308 Sul, atuando como vice-diretora. Tendo a Secretaria de Educação instituído um curso para diretores de escola, dona Anísia logrou aprovação em primeiro lugar – isso por volta de 1965 – e foi dirigir a escola-classe da 305 Sul, em verdade, uma escola experimental. Sua experiência docente, pelo que se depreende de seu relato, deu-se sempre no nível primário de ensino, mas ela nunca foi alfabetizadora. Mais tarde, cursou a faculdade. Enquanto professora do curso primário – foi, em verdade, relativamente curta a sua atuação direta em sala de aula, tendo logo ascendido às posições de vice-diretora e diretora – recebeu treinamento do INEP e do CLINEP, ou, como prefere, uma especialização. Isso existiu entre 1958 e 1959, portanto, antes da criação da CASEB.
A entrevistada discorre, inicialmente, sobre a sua vinda para Brasília, em 1958 – por que veio, em que circunstâncias, etc. – e a oportunidade que aqui encontrou, de lecionar para os filhos dos funcionários da empresa onde seu esposo havia sido admitido pouco antes. A construtora havia montado, com esse objetivo, uma escolinha, logo encampada pela Novacap. Relata o estágio a que se submeteu – assim como todas as professoras que aqui se encontravam antes da inauguração - cerca de 20 docentes. Em seguida, aborda a contratação pela Novacap, fala do orgulho da carteira assinada, menciona as relações entre professoras concursadas (concurso nacional) e aquelas simplesmente com estágio. Ressalta a importância desse estágio, no sentido de se obter uma especialização. Relembra o surgimento da CASEB, a criação da Fundação Educacional, já com a Capital inaugurada. Destaca o pouco tempo que passou em sala de aula, logo convocada para cargos de direção: primeiro em Taguatinga, depois em escola-classe, no Plano Piloto. Menciona a constante preocupação do Dr. Ernesto Silva em qualificar o corpo docente da Novacap, para que este pudesse atuar, em condições de igualdade, lado a lado, com o pessoal aprovado no concurso nacional. Manifesta, no transcurso da entrevista, sua percepção acerca da qualidade do ensino naquela época, seja pela concepção de ensino integral proporcionada pela criação de escolas-classe complementadas por escolas-parque, seja pela preocupação com aspectos didáticos como a orientação pedagógica; a supervisão; as unidades de trabalho; o “trabalho do mês”; o planejamento; a elaboração de plano de aula, e outros recursos que refletiam o preparo e o empenho dos níveis de direção e decisão da área educacional. Comenta o entusiasmo dos professores; a confiança dos pais em manter seus filhos na escola pública; a reciclagem através dos cursos do PABAE; o papel do INEP e do CLINEP no contexto da formação docente; a excelência do trabalho realizado por dona Helena Reis, diretora-geral com curso no exterior; enfim, a educação conduzida naquele tempo, no DF, como um projeto.
Local da entrevista: Brasília - DF
